Conheça a história de Pâmela Rayane, mulher que perdeu a filha de 5 anos na tragédia de Mariana
Data: 27/09/2024 - Autor: Revida Mariana
Moradora da zona rural de Mariana (MG), Pâmela Rayane Fernandes de Sena, de 30 anos, vivia no distrito de Bento Rodrigues e estava grávida de três meses quando a barragem de Fundão rompeu, em 5 de novembro de 2015. Na ocasião, Pâmela perdeu a filha de 5 anos, Emanuelle, arrastada pela lama. A tragédia destruiu a casa e a família dela, além de ter deixado cicatrizes físicas e emocionais.
À época do acidente, com 22 anos, ela recorreu ao álcool para suportar a dor. “Eu comecei a beber muito também. Muito mesmo, mas aí eu percebi que não estava legal, não estava certo. A minha dor só passava quando eu bebia muito. Mas, depois que o efeito do álcool passava, ela voltava muito pior. Porém, hoje, eu parei de beber e estou mais tranquila”, conta.
O trauma abalou não apenas a saúde física e mental de Pâmela, mas também desestruturou o casamento. O ex-marido, Wesley, se tornou dependente químico e o relacionamento chegou ao fim. Pâmela atribui às mineradoras Samarco, BHP Billiton e Vale a destruição da família dela. Ela ainda afirmou que a Fundação Renova, criada pelas mineradoras para reparar os danos à população atingida, só ajudou nos primeiros momentos após o desastre.
Hoje, Pâmela está desempregada e vive de aluguel em uma casa na comunidade de Cachoeira do Brumado, que fica a 20 minutos de Mariana. O dinheiro que ela tem sobrevivido e criado os três filhos foi cedido pela Fundação Renova. Porém, não é suficiente. Divorciada, ela luta dia após dia para manter a família de pé. Além disso, Pâmela lamenta a falta de assistência psicológica adequada.
O tratamento oferecido foi interrompido diversas vezes devido à troca frequente de profissionais, o que prejudicou o acompanhamento necessário para ela e os filhos. “Se eu precisar de um psicólogo, se meus filhos precisarem de um psicólogo, alguma coisa, a gente terá que se virar sozinho. Hoje é tudo bem mais difícil do que a gente vivia há nove anos. Tem sido muito difícil adaptar a vida que a gente tem hoje”, disse ela.
A pequena Emanuelle teria 14 anos se estivesse viva. Os sonhos interrompidos e a ausência constante fazem com que Pâmela não descanse na luta por justiça. A esperança foi renovada com o mandado de segurança requerido na última quarta-feira (25). O documento destaca a ausência de transparência e participação dos atingidos nas negociações da Mesa de Repactuação perante o Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6).
“Comecei a me acostumar com a dor de ficar chorando por ela. Apesar disso, estou sabendo lidar um pouco melhor. O que eu quero é justiça. É poder dar uma vida digna aos meus filhos, o que não pude fazer com a minha Manu”, lamenta Pâmela. “Eles recebem milhões e milhões, mas nos deixam desamparados”, critica.
Relembre fatos da tragédia
• Em 5 de novembro de 2015, a barragem de Fundão, em Mariana (MG), se rompeu;
• a barragem pertencia à mineradora Samarco, controlada pela Vale e BHP Billiton;
• a lama tóxica devastou vilarejos, matou o Rio Doce e ceifou 19 vidas;
• milhares de famílias foram deslocadas, e até hoje os atingidos lutam por reparação e justiça;
• no dia do rompimento, o então marido, Wesley, cuidava dos filhos em casa, quando ouviu o barulho do rompimento e correu para a casa da irmã com as crianças;
• a lama tóxica destruiu a residência em que estavam e matou Emanuelly;
• a pequena de 5 anos só foi encontrada 7 dias depois do rompimento da barragem;
• Nicolas engoliu muita lama e se machucou, mas sobreviveu ao se esconder dentro de um carro que boiava na lama;
• Wesley foi arrastado por dezenas de metros, ficou muito machucado e teve fratura exposta no tornozelo;
• o rompimento da Barragem de Fundão é considerado o maior crime socioambiental do país até hoje.