Comunidades atingidas exigem voz na Repactuação e entregam manifesto em Brasília
Data: 30/09/2024 - Autor: Revida Mariana
Na manhã da última sexta-feira (27), Brasília foi palco de uma importante ação das comunidades atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). Em meio à cerimônia de posse da nova ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, representantes dessas comunidades viajaram até o Palácio do Planalto com uma missão clara: entregar ao presidente Lula um manifesto que exige maior participação nas negociações do novo acordo de Repactuação do caso Rio Doce.
Embora não tenham conseguido entregar o documento diretamente ao presidente, os representantes da Articulação das Câmaras Regionais alcançaram importantes figuras do governo, como a própria ministra Macaé Evaristo e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Entre os que receberam o manifesto estavam também deputadas de Minas Gerais, Leninha e Bela Gonçalves. O conteúdo do documento vai além de demandas técnicas: é um apelo por justiça e por voz nas discussões que definirão o futuro de terras, rios e meios de subsistência.
O manifesto, que resume anos de luta, destaca seis reivindicações centrais. Entre elas, a participação direta nas negociações da Repactuação, conforme previsto no Termo de Ajustamento de Conduta da Governança (TAC-GOV). As comunidades também clamam por um processo de consulta às populações atingidas, maior transparência na destinação dos recursos financeiros e a limpeza completa do Rio Doce — fonte vital para milhares de famílias que vivem às margens do rio.
Para os atingidos, a falta de participação até aqui soa como uma segunda violência. Eles denunciam o sigilo das negociações e criticam a celeridade de um processo que, sem escutar quem mais sofreu com o desastre, dificilmente atenderá às reais necessidades da população. Um dos pontos mais levantados é a exclusão dos representantes eleitos pelos territórios atingidos nas discussões que ocorrem a portas fechadas, desconsiderando as vozes de quem vive cotidianamente os impactos do rompimento.
Coletiva de imprensa encerra dia de luta
Além da entrega do manifesto, uma coletiva de imprensa foi realizada no Hotel San Marco, em Brasília, na tarde da última sexta, para que representantes das comunidades atingidas tivessem espaço para reforçar as preocupações com o novo acordo. “Estamos aqui fazendo um apelo ao Presidente Lula, que todo o recurso destinado à União, Estados e municípios deve garantir o controle social aos atingidos. Precisamos de acompanhamento, validação e fiscalização dos recursos que chegam aos nossos territórios”, declarou Varner de Santana Moura, de Marilândia-ES.
As lideranças também destacaram a urgência de medidas concretas para a recuperação do Rio Doce. Joelma Fernandes, agricultora de Governador Valadares, lembrou da importância do rio para o sustento das famílias locais: “Queremos o rio limpo para garantir às futuras gerações o direito de viver e produzir de forma saudável”.
Após nove anos do crime socioambiental, as cicatrizes são profundas, mas as comunidades atingidas seguem mobilizadas, e exigem transparência e respeito. A mensagem do manifesto é clara: sem a participação ativa de quem viveu as consequências do rompimento, não há acordo justo.